Reflexão
Data
Maio de 2024
O que o amor tem a ver com trabalho?
“Por que as pessoas trabalham?”. Meu filho de dez anos recebeu essa pergunta na escola na terça-feira e sem hesitar respondeu: “para ganhar dinheiro, ué”. A professora riu e eu também quando ele me contou. E sim, ele não deixa de ter razão, mas eu continuei na procura de uma outra resposta. Como a gente encontra o caminho do meio? Como eu explico o que é o trabalho para o meu filho – para além do capitalismo?
Trabalhar com propósito, fazer o que ama e ainda pagar os boletos. Parece privilégio ou utopia. Para a maioria das pessoas deste mundo, trabalho e amor parecem não andar juntos. Talvez fosse assim que meu filho pensasse também. Resolvi pegar a mão da escritora e pensadora feminista bell hooks para tentar achar uma perspectiva sobre trabalhar com amor.
“Fazer um trabalho que odiamos ataca nossa autoestima e autoconfiança. A maioria dos trabalhadores não pode fazer o trabalho que ama. Contudo, todos podemos aprimorar nossa capacidade de viver com propósito aprendendo como experimentar satisfação com qualquer atividade que desempenhamos”, ela escreve no livro Tudo sobre o amor (Editora Elefante).
Tá, bell hooks, quer dizer então que não é o que a gente faz, mas como a gente faz? Parece fácil. Mas pode ser mais complexo que isso, claro. Depende da forma como encaramos tudo. A vida, trabalho, desafios. Trabalho também tem a ver com a forma como nos relacionamos com o mundo. O que queremos criar, que tipo de relação com o próximo queremos estabelecer. É através desse amor que o resto se resolve.
Para resumir a perspectiva da bell hooks: ser feliz no trabalho é sobre ter amor-próprio. É poder viver satisfeito com o que a gente faz, sem ser explorado e pagar as contas.
“Trazer amor para o ambiente de trabalho pode criar a transformação necessária para que qualquer trabalho que façamos, não importa quão subalterno, se torne um âmbito em que os trabalhadores possam expressar o seu melhor. Quando trabalhamos com amor, renovamos nosso espírito, essa renovação é um ato de amor-próprio que alimenta nosso crescimento. Não é o que você faz, mas como faz”.